– Carteira de identidade, cartão do plano e senta ali que num minuto te atendo.
[putz, maluco, que grossa... vou ser simpático pra]
– Olá, boa tarde! Eu vim pra uma consulta com o Dr. Gonçalo e
– ok. Carteira de identidade, cartão do plano e senta ali que já te atendo.
[Sinceramente... sifudê. A pessoa já vem aqui porque tem um problema e se depara com um dragão desse na chegada. Essa daí tem sorte que eu nunca tive coragem de matar. Matar é meio hard, é meio colhudo demais. Sou desses não, prefiro ser frouxo mesmo, dá menos trabalho.]
[[Rá. Colhudo você nunca foi mesmo...]].
Entrega os documentos e senta.
[Ela tá me olhando. O que eu faço?]
[[Sei lá. Finge que tá puto.]]
[Mas eu tô puto! Com ela e com o encosto mal humorado dela... Não seria fingimento.]
[[Tá naaada! Se tivesse puto, puto, puto mesmo, dava-lhe logo um esporro, sairia e nunca mais viria ver esse Dr. Escobar aê]]
[Gonçalo, Gonçalo. Esse a gente já veio visitar. Lembra? Ele que deu aquele comprimidinho azul e branco, manero... pena que]
[[Pena que você é um frouxo, cagafralda, mariquinha, borrabotas]]
[shhh... ela vai ouvir. ]
[[Tá vendo ali? No canto? Que nojo. Uma barata enorme. Fala sério. Médico que é médico de verdade, pelo menos, dedetiza o consultório...]]
[Eca... mas a barata pode ter entrado aqui com um paciente, pode ser culpa da administração do prédio, pode ser pelo verão... a culpa não é dele.]
– Você pode vir aqui assinar a guia, quirido?
[[Querido? Querido? Manucu, né não?! Tá querendo ser sua amiguinha agora é?]]
[shh!! Já falei! Ela vai ouvir!]
[[Cuidado com a barata!]]
Assina a guia e se senta de novo.
[[Você não falou da barata... Vai lá e aproveita pra falar do canal. Ninguém merece Casos de família, por favor. Isso é tortura. Alguém precisa fazer alguma coisa.]]
[Até que os assuntos são bonzinhos... Deixa quieto.]
[[Deixa quieto nada. Saporra é armada.]]
[Aqui não deve ter cabo. Deve ser aberta só. Ela vai trocar e vai botar na Soniabrão. Você prefere?]
[[Pelagraçadenossosenhor.]]
[Shh, então.]
[[Você não quer ir no banheiro não? Aí você aproveita e avisa da barata.]]
[Não. Eu só quero ficar quietinho.]
[[... ... ... ... tsc]]
[Quié?]
[[Nada.]]
[...]
[[... ... ... ... TSC]]
[Ah bom... mas o que é, meu deus?!]
[[Já falei... Nada. É só que você tá aí. Evitando.]]
[Evitando o quê, minha gente?]
[[Falar da barata.]]
[E qual o problema da barata? Ela tá longe.]
[[Como se isso importasse.]]
[Aff. Ela tá quieta. Não se mexeu até agora.]
[[Até ela vir andando devagarinho e entrar na minha roupa, subir pela minha perna e entrar no meu ouvido, chegar no cérebro, comer meus neurônios e eu ficar dããã pro resto da vida.]]
[Aff. Tá bem.]
– Oi. Tudo bem? Tem uma barata ali no canto.
– Onde?
– Ali... ué. Estava ali ainda agora. Eu juro.
– Era grande?
– Era sim. Enorme. Cascuda. Uma lagosta. Será que ela foi pra detrás da TV? Inclusive, falando nisso, esse programa não tem nada a ver, não é mesmo, rs.
– Vejo todo os dias.
Senta.
[[Frouxo.]]
[...]
[[Não adianta fazer cara feia pra mim, não...]]
– Maria das Dores.
[[Não era você o próximo? Essa mulher chegou depois de você! Vai lá reclamar!]]
[Vou nada. Ela devia estar no horário antes.]
[[Só me faltava essa. Mas você chegou antes! Isso não importa?]]
[tsc ... ... ... ...]
[[... ... ... ... TSC ... A lá a barata de novo! Agora ela tá mais perto.]]
– Oi. Olha ela ali!
– Onde? ...
– Acho que, quando eu me levantei, assustei ela...
– ¬¬
– Pode deixar que na próxima vou só te chamar. Qual o seu nome mesmo?
– hunf, Matilde.
Senta de novo.
[Você viu ela de novo?]
[[Não. Tô prestando atenção. A filha está denunciando a mãe, dizendo que ela pegou o cartão dela e comprou uma máquina de fazer pão. Não acho isso um motivo justo. A mãe é compulsiva, sabia? Já comprou uma panela de pressão elétrica e]]
[Aff.]
– Matilde! A barata, ali!
– ...
– Ela tava ali, eu juro...
– Não importa. Você é o próximo.
– Posso entrar com ela?
– Quem?
[[Eu vou ficar aqui vendo o desfecho da história. Pode ir lá.]]
---
– E aí? Como está indo o tratamento?
– Tudo ótimo, Dr. Gonçalo.
– Que bom! Vou te dar uma nova receita.
– Dr, o senhor precisa dedetizar seu consultório. Tinha uma barata enorme lá fora e tem outra ali no canto.
– Onde?
– Bem ali, no cantinho. ... Acho que foi embora.
– Acho que vou aumentar a dose um pouquinho. E as vozes? Ainda ouvindo?
– Imagina!
Pega a receita.