domingo, março 18, 2012

Life is an accident

Um espermatozoide encontra um óvulo. Chance de 1 em 500 milhões de possibilidades. Outro espermatozoide encontra outro óvulo, anos depois, quilômetros de distância. Chance de 1 em 500 milhões de outras possibilidades. Muitos anos depois, com muitos e muitos zeros de possibilidades, eles se encontram...

Feitos um para o outro. Não eram iguais, nem na cor. Também não eram opostos. Mas se atraíram  Se atraíram tanto, que um dia acabou. Se por ciúme ou sem vergonhice, não importa.

Nesse dia, um táxi levou sua dor e seu orgulho até a praia. Resolveu sair andando pelo calçadão. Era um domingo à noite e não sabia bem o que fazer. Pela primeira vez, depois de muito tempo, tinha liberdade e não sabia o que fazer com ela. Se quisesse andar o resto da noite na beira da praia, poderia.

Queria ter isso registrado exatamente dessa forma em sua mente. A liberdade teria gosto de maresia. Mas não era um gosto agradável. Ardia na base da língua e o cheiro salgado parecia aumentar sua pressão quase que instantaneamente.

Uma loba cantava ao fundo. Ouvia depressivamente e – sozinha e em silêncio – uivava junto com a música. Não tinha lua no céu. Na verdade, parecia que a lua tinha mais vergonha do que ela daquilo que tinha acontecido.

Fez isso quase todos os dias, desde aquele momento em que descobriu que estaria sempre só. Quando não queria partir madrugada adentro, ligava a tv e roncava no sofá até descobrir que ninguém a levaria para a cama. Foram duas semanas, quinze dias que duraram duas eternidades.

Naquele dia, decidiu que não iria correr o risco de encontrá-lo. Era importante ir. Para uma amiga, não para ela: era mais importante preservar sua dor do que uma amizade, imaginava.

Resolveu distrair a cabeça e seguir a rotina. Andaria no calçadão, uivaria para a lua, bateria no peito como uma troglodita para qualquer estranho que passasse, mentindo que conseguiria ser feliz.

Mas viu um saco de pipocas derrubado no chão...

Um casal brigava no ponto de ônibus. Na verdade, uma mulher brigava sozinha no ponto de ônibus. O homem observava o saco de pipocas, que parecia ter acabado de ser disparado contra ele. Mas que importa? Era um saco de pipocas no chão. Eram pipocas espalhadas na calçada que poderiam ter sido divididas, que poderiam ter presenciado um casal e beijos numa sala de cinema, que poderiam ter sido rejeitadas para não grudarem casquinha nos dentes. Só que agora estavam no chão, derrubadas, presenciando uma briga que parecia não ter fim. Ela não sabia o que a mulher louca dizia. Nem sabia se ela era louca ou não.

Deu meia volta e obedeceu o que as pipocas tinham revelado a ela.

Apartamento adentro, decidiu que aquela seria a noite. Faria a Olhos nos olhos. Estaria exuberante. Colocaria o melhor vestido... Não. Colocaria o vestido preferido dele. Conversaria com aquele cara que ele detestava. Mostraria suas gengivas – que costumava não mostrar para ninguém – para todo mundo. Pareceria estar feliz... mas não para vê-lo arrasado. Quer dizer... em parte era, mas não era esse seu objetivo final.

Já tinha imaginado. Iria esperar que ele chegasse. Sabia que ele viria falar com ela. Sabia que ele reclamaria daquele cara e de suas gengivas.

Não ficaria muito tempo. Seu plano poderia não dar certo e o cheiro dele ficaria de novo impregnado na sua cabeça.

...

Não importa o que ele fez ou disse. Na verdade, nem lembra direito como tudo aconteceu. Só sabe que, em pouco tempo, estava nos braços dele, exatamente como havia planejado.

Ela sabia que era dele e ele dela. Sempre soube. Desdo o primeiro dia. Desde quando não lembrava os nomes dos atores e não sabia letra de música. Desde quando não decorava falas de seriados e filme nacional era sinônimo de filme cabeça. Desde quando ele ainda não era dela e ela já era toda sua. Toda.