segunda-feira, janeiro 11, 2010

esse moço

Poucos anos, pouco dinheiro, trabalho duro.
Macacão sujo de graxa e joelhos fracos.

Nome de artista e de fruta. Lima. Lima Duarte. Pronunciava esse nome como um Bond qualquer faria reconhecer sua própria identidade. A mãe, quando ele nascera, achava que, se assim fosse batizado, teria sucesso como o conterrâneo teve. Estava certa ou errada?

Nem certa nem errada. Tampouco precisaria algum dia fazer sentido. Era como um sinal, uma cicatriz, e levaria na carteira como se levasse estampado na pele. Não realmente faria diferença, mas quem sabe?! Poderia acabar provocando alguma reação... seja nos outros, seja nele mesmo.

Tinha poucos amigos. Poucos ou nenhum. Mas não pensava-lhe fazer falta. Imaginava que, quanto menos, ainda menos importância daria quando – e se – lhe faltasse... De fato, não era isso, mas achava mais prudente o engano. Enganar-se era acreditar que ninguém poderia ser mais importante do que ele mesmo era.

Também por isso, não queria mulheres. Achava-as tolas e dispendiosas. Estar sozinho já lhe bastava como fardo. Carregar outro apêndice – que teimaria em sempre consumir sua energia – poderia fazê-lo-se sentir mais fraco do que realmente era – e fraqueza era algo que sempre preferiu passar adiante. Eventualmente, conhecia alguém interessante. Mas se fazia de rogado. Supérfluo – fora a última palavra aprendida e sempre cabia para explicar a escolha.

Até aquela manhã.

Estava martelando algo. A ferrugem escapava e, dentro em breve, lhe faria lacrimejar os olhos. Suava como a cerveja que, à noite, fingiria levar o seu cansaço.

Um algo supérfluo passou ao seu lado e fingiu não vê-lo. Carregava uma xícara de café que – poderia ele jurar – parecia estar lhe queimando os dedos... dedinhos. Seguravam pelas pontinhas a alça e, mesmo assim, pareciam não resistir ao calor. Que mãos... Tão frágeis, tão delicadas. Mas só as mãos. Ou talvez o queixo também. Mas era só isso. Nada mais demonstrava fragilidade. Todo o resto era de uma sutil brutalidade que nao lhe cabia nas mãos.

Queria-lhe perguntar o nome. Só o nome.
Ah!... E tocar-lhe as mãos. Isso bastaria.

Ali não era o lugar daquela dona. Ninguém saberia, ninguém a teria visto passar. Também ninguém entenderia se perguntasse. Teria que chegar até ela. Tinha decidido. O faria assim que aquelas mãos novamente passassem por aquelas bandas.

Foi oportunidade que não teve. Viu-a somente de longe. Muito longe. Num impulso, levou os dois dedos indicadores à boca. Assim mesmo: encardidos de ferrugem e desespero. Assobiou. Forte. Alto. Enfrentou a possibilidade de não ser ouvido ou de, pior, não ser (cor)respondido. Repetiu por mais um par de vezes. Até que finalmente ouviu a resposta – se é que aquilo poderia-se configurar como resposta. Fraca. Baixinho.

Naquela noite, ele planejaria o futuro.
Nunca mais a viu.

Ela tentaria entender o que houve.
Nunca entendeu.